segunda-feira, 18 de abril de 2011

Realidade e desafios da gravidez na adolescência

Por Michele Santana e Marcus Santiago

Dados do Ministério da Saúde revelam que o número de partos em adolescentes entre 10 e 19 anos caiu 22,4% de 2005 a 2009. Embora essa queda seja real e esteja aumentando a cada ano, os casos ainda são freqüentes.
 Segundo Viviane Rodrigues, enfermeira chefe de um dos PSFs (Programa Saúde da Família) de São Tiago, apesar da queda, os casos ainda são freqüentes. De acordo com dados do SISPRENATAL (Sistema de Acompanhamento do Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento) em 2010, das 104 gestantes cadastradas, 18 eram adolescentes, o que corresponde a 17,3%.  O município teve 72 casos de internação hospitalar na faixa etária de 5 a 19 anos, sendo que as maiores causas de internação foram parto normal (18%) e cesariana (8,3%).
Viviane acredita que esses dados podem ser reflexos de questões sociais e culturais. “A maioria das adolescentes que engravidaram vem de famílias desestruturadas e acabam não criando perspectivas de vida. Muitas param de estudar e não se importam muito com crescimento profissional e estudos e acabam iniciando sua vida sexual muito cedo e uma das consequências é a gravidez”, afirma.
Em São Tiago, as adolescentes grávidas são encaminhadas ao posto, na maioria das vezes pelos agentes de saúde, que são o primeiro contato das pacientes com os sistema de saúde, que garante também o pré-natal. De acordo com Viviane, a maioria dos casos acontece entre 14 e 15 anos e os riscos de uma gravidez precoce são muito grandes. “Gestação em idade abaixo de 17 anos é considerada de risco, já que o corpo ainda não está totalmente formado e a possibilidade de acontecer abortos ou nascimentos prematuros é maior”, afirma.
Para evitar que o número dessas gestantes aumente, alguns profissionais das áreas de saúde e educação do município criaram um projeto de saúde na escola, em fase de aprovação no Ministério da Saúde.  O objetivo é desenvolver trabalhos de orientação e conscientização nas escolas, não somente com relação à gravidez, mas também ao alcoolismo, uso de drogas, violência, tabagismo e outros. “O intuito do projeto é desenvolver ações de prevenção e promoção à saúde, visando à qualidade de vida dos estudantes, além de torná-los conscientes de suas responsabilidades com relação à saúde”, conclui.
  

Atuação dos agentes de saúde na orientação da gravidez precoce

            No distrito de Morro do Ferro, município de Oliveira, a 18 quilômetros de São Tiago, a situação é diferente. Segundo a enfermeira chefe do PSF, Karine Silva, é possível encontrar adolescentes grávidas no distrito, mas o índice é considerado baixo. “No nosso município podemos observar que em algumas áreas onde a população tem condição social baixa, grau de escolaridade menor e famílias desestruturadas, o índice de gravidez na adolescência é bem maior. Mesmo o índice sendo maior nessas áreas, a gravidez pode ocorrer em todas as classes sociais. O adolescente é ‘corajoso’, pensa que nada vai acontecer com ele e por isso não importa se é rico ou pobre, a melhor prevenção é a educação em saúde”, comenta. 
No distrito é feito o diagnóstico situacional de cada área todos os anos. “Este diagnóstico nos dá dados atualizados de cada população, onde calculamos os índices de cada condição ou doença por área. É através deste índice que montamos nossos planos de ação, nossas estratégias, que damos direção ao nosso trabalho. O trabalho que é feito quando o índice de gravidez na adolescência aumenta é a educação em saúde, através de palestras. Este trabalho é feito junto a Grupo de Jovens e Pastoral da Criança”, informa.
Nessa perspectiva, de orientar e conduzir, Karine afirma a importância do agente de saúde. “O agente comunitário de saúde é peça fundamental do sistema porque tem um vínculo maior com a população, conhece melhor cada indivíduo e cada família de sua micro área e suas necessidades. Ele passa para a equipe os riscos, as condições e as necessidades dos indivíduos e das famílias. É com estes dados passados pelos agentes que dirigimos nossos trabalhos a estes indivíduos e famílias com o intuito de diminuir os riscos e suprir as necessidades de cada um. Na gravidez na adolescência muitas das vezes o primeiro a saber é o agente, que orienta a gestante quanto à necessidade da realização do acompanhamento (pré-natal e exames) e agenda este acompanhamento no PSF”, finaliza.


Experiência em família

Izara de 16 anos acabou de ser mãe e disse que a experiência foi uma das mais estranhas que passou. “Descobri a gravidez quando estava no sétimo mês. No começo achei estranho, mas depois me acostumei com a ideia.”, diz.
Ela, que não desconfiava que estivesse grávida, fez um teste de farmácia que deu positivo. “Não acreditei que fosse gravidez enquanto minha mãe e minha irmã vibravam com a surpresa”, afirma. Logo depois procurou o posto de saúde e fez todas as consultas de pré-natal nos dois últimos meses da gestação.
Com essa situação os amigos se afastaram e até o pai da criança não quis assumir a responsabilidade. “Agora vejo como minha vida mudou. Minha filha é tudo pra mim, mas as responsabilidade que tive que assumir com a chegada dela me fizeram abrir mão de muitas coisas” ressalta.
Hoje a filha está com um mês e Izara afirma que tudo mudou. “A responsabilidade de ser mãe é muito grande. Sei que não posso mudar as coisas, mas se eu pudesse escolher, teria esperado um pouco mais para ter minha filha’, finaliza.
            Caso parecido com o de Izara é o de Aline, sua irmã mais velha. Ela, que tem 21 anos, foi mãe a primeira vez aos 14 anos. Mas, ao contrário da irmã, as duas gestações que teve foram planejadas. “Eu queria ter filhos e aconteceu. Não descobri tão tarde quanto Izara. Foi bem no começo e fui muito bem orientada no posto sobre os riscos da gravidez naquela idade”, diz.
            Embora quisesse ter filhos, Aline confessa que ficou transtornada, mas depois se acostumou com a ideia, até porque sua mãe não foi contra. “Minha mãe me apoiou e o pai do meu filho também, mas tive que abrir mão de muitas coisas”, afirma.  
            Já a segunda gestação, aos 17 anos, foi mais conturbada. “Não tive problemas com minha saúde, mas o pai da minha filha não queria assumir a responsabilidade e tivemos que fazer até o exame de DNA para comprovar a paternidade”, explica.
Passadas as dificuldades, Aline diz que não se arrepende de ter tido seus filhos tão nova e que eles foram importantes para mudar sua vida. “Antes eu saia de casa na sexta-feira e só voltava no domingo. Bebia e saia de casa ser ter compromisso e responsabilidade com nada. Hoje vejo que um gravidez pode tirar a gente do poço. Não sou a melhor filha, mas tento ser a melhor mãe para meus filhos”, conclui.


*Clique em cima da imagem para ampliar



Tabela 1: Partos por regiões

Região
2000
2005
2009
Variação
2000-2009
Norte
79.416
76.172
62.046
-21,90%
Nordeste
249.057
214.865
159.036
-36,10%
Centro-Oeste
52.112
43.362
32.792
-37%
Sudeste
217.243
174.465
138.401
-36,30%
Sul
81.530
63.677
51.781
-36,50%


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