sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ingredientes que fazem a vez em São Tiago

Por Michele Santana e Marcus Santiago

Angélica fazendo biscoitos
Na indústria do casal Gaspar e Angélica de Castro um ingrediente é essencial. O amendoim faz a diferença há dois anos, quando a panificadora lançou o “Cajuzinho” na 10ª Festa do Café com Biscoito, o principal evento no calendário de São Tiago, a 44 quilômetros de São João del-Rei. A cidade, de dez mil habitantes, é conhecida nacionalmente pela produção artesanal de biscoitos, principal fonte de renda das famílias e da economia do município.
Segundo a Assabiscoito (Associação São-tiaguense dos Produtores de Biscoito), em São Tiago existem em torno de 45 fábricas, sendo que dessas apenas 24 são associadas.  Essas geram em média 600 empregos diretos e indiretos e as quitandas são vendidas em vários estados.
Há 13 anos, quando começaram o negócio, Gaspar, Angélica e mais um funcionário se restringiam à produção de torradinhas, que eram vendidas para Barbacena e São João del-Rei. Com o tempo e o aumento da freguesia, foi preciso aumentar o número de funcionários e a variedade, introduzindo os biscoitos doces na produção.   Hoje a panificadora produz, em média, 800 pacotes de biscoitos por semana, entre doces e salgados, que são vendidos também para Belo Horizonte, Carmópolis, Divinópolis, Oliveira e outras.  São mais de 30 variedades, dentre elas: Torradinha, Flor de Minas, Quebrinha, Rosquinhas de Milho Verde, Coco, Abacaxi e Nata, Delicinha, Goiabinha, Mesclado, Queijoquinha, Cajuzinho, Biscoito de Amendoim, Amanteigado, Pães de Queijo, Roscas e Pães Folhados.
Para atrair mais fregueses, Angélica diz que sempre que podem experimentam uma nova receita. Se os fregueses aprovam, passam a produzir mais. “É uma forma de não perdemos fregueses a atrairmos novos, já que as pessoas se cansam da mesma coisa sempre”, diz.
No caso do “Cajuzinho”, que se tornou a atração principal, Gaspar lembra que a receita nasceu do acaso. “Queríamos fazer um biscoito diferente, mas que chamasse a atenção dos nossos fregueses. Com isso Angélica começou a misturar ingredientes. Dessa mistura saiu o ‘Cajuzinho’, cujo principal ingrediente é o amendoim. Hoje é um dos mais vendidos e, durante a festa, a demanda é tão grande que o que é produzido se esgota rapidamente”, comenta.
Para se ter uma ideia de como é um biscoito de São Tiago, Angélica passou duas de suas receitas. A do “Cajuzinho”, ela diz que ainda é segredo.

ROSQUINHAS DE NATA
4 colheres de açúcar
farinha de trigo o necessário
½ xícara de leite
1 xícara de nata
1 ovo
1 colher de sal amoníaco
pitada de sal

MODO DE PREPARO:
Desmanche o sal amoníaco no leite. Acrescente os demais ingredientes e coloque farinha de trigo até que a massa adquira consistência para que possa ser enrolada. Enrole e asse em forno quente.

PÃO DE QUEIJO
1k de polvilho azedo
1 colher de sal
2 ½ copo de leite
1 ½ copo de óleo
½ copo de água
3 ovos
Queijo a gosto

MODO DE PREPARO:
Numa panela coloque o leite e o óleo e ferva. Em seguida despeje o escaldo sobre o polvinho e sal. Com uma colher vai mexendo e acrescentando água até dar o ponto de enrolar e coloque o queijo. Enrole normalmente a massa em formato de bolinhas e coloque para assar em forno quente.

Um “jeitinho de Minas”
Foto: Michele Santana
            Na padaria de Mirian e Geraldo Oliveira, os ingredientes que fizeram a diferença foram o doce de goiaba, queijo e pizza. Assim como Gaspar e Angélica, começaram de forma tímida, em maio de 2005, e produziam apenas biscoitos doces na cozinha de casa para o próprio consumo. Com o tempo perceberam que poderiam vender seus produtos. “Começamos a vender dentro da cidade como um teste, pra ver se o negócio dos biscoitos daria certo”, afirma Mirian. Com o passar do tempo, os clientes foram aparecendo e um dos maiores impulsos para alavancar as vendas foi a participação na edição da festa daquele ano.
            Os produtos que mais chamaram a atenção naquela época foram o “Casadinho”, (biscoito recheado com doce de goiaba) e os “Torcidinhos” de queijo e pizza (biscoitos torcidos à mão). Segundo Mirian, “o Torcidinho não tinha muita clientela, mas com a festa a venda cresceu e hoje é um dos mais vendidos, junto com o Casadinho e as Torradinhas”.
            Um ano depois de iniciar a produção dos biscoitos doces, começaram a produzir torradinhas e os dois filhos do casal passaram a ajudar diretamente. Contrataram funcionários e hoje já não produzem mais na cozinha, mas num espaço próprio para o novo negócio. Têm uma média de produção de aproximadamente mil pacotes por semana, dependendo dos pedidos, e os produtos são vendidos para as cidades da região, mas principalmente para Belo Horizonte.     
            Dentre as 25 variedades estão as Torradinhas de Queijo, Cebola e Natural, que são as campeãs de venda, Casadinho, Torcidinhos de Queijo e Pizza, Rosquinhas de Nata, Coalhada, Leite, Coco, Flocos e Delícia, Broinha e Biscoito de Fubá.
            Usando antigas receitas, Mirian diz que o segredo está na qualidade e na criatividade. “Embora não seja fácil produzir biscoitos, fazemos o possível para manter o nível da produção e criar novas receitas para os clientes. A festa nos ajudou muito e participar também é uma forma de ajudar a divulgar o nome da cidade”, finaliza.

O produto que transformou São Tiago
Produzir biscoitos na cidade de São Tiago faz parte da rotina do lugar. Há 12 anos é realizada a “Festa do Café com Biscoito”. Desde que era um arraial, quando ainda não existiam padarias e panificadoras, os moradores de São Tiago produziam suas quitandas. Tudo era feito em casa, de forma bem arcaica e de acordo com os ensinamentos dos mais velhos.
Foto: Marcus Santiago
            Como o lugar servia de parada para tropeiros e viajantes que transitavam rumo ao Triângulo Mineiro e Goiás, em comboios vindos principalmente do Rio de Janeiro, era comum ter em casa quitandas para oferecer.
            Essas receitas, trabalhadas artesanalmente e mantendo sua qualidade, foram passadas de geração em geração, e mais tarde se tornaram elemento da fonte de renda do município, movimentando sua economia, trazendo à cidade não somente lucro com as vendas, mas atenção de quem gosta e aprecia essas iguarias.
            Em virtude disso, em 1999, com o intuito de divulgar a produção e projetar a cidade para este ramo não só em Minas, mas também em outros estados, aconteceu a I Parada do Café com Biscoito. A intenção era expor as quitandas na praça para a degustação gratuita e, paralelamente, mostrar a tradição e a cultura da cidade.
            A ideia deu certo e neste ano a festa está em sua 13ª edição. A preparação ainda não esta acontecendo porque todos os anos o projeto da festa tem que ser refeito e enviado ao Ministério da Cultura para aprovação. Segundo Adriângela Magalhães, representante da Assabiscoito, o projeto está em fase de apreciação, mas assim que for aprovado, os preparativos começarão.
            Ainda de acordo com a associação, aproximadamente cinco toneladas de biscoito estiveram disponíveis para a degustação, distribuídas em cada um dos stands montados na praça na última edição em 2010.

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