Carol Argamim Gouvêa e Íris Marinelli
Fernanda Silva Oliveira já deixou de dormir e comer direito por causa de uma nota ruim no colégio. Estudante do 3º ano de uma escola particular em São João del-Rei, ela sofre com a pressão causada pelo vestibular para medicina que irá prestar no final do ano. Já Letícia Giarola, que irá tentar arquitetura, deixa de sair aos finais de semana para adiantar os estudos e se priva também da internet. Assim como elas, milhões de jovens têm seu equilíbrio abalado diante da perspectiva de enfrentar uma prova que poderá decidir o seu futuro.
Alunos assistem aula no cursinho Frei-Seráfico |
“Diante da concorrência do vestibular, os estudantes tendem a desenvolver uma insegurança e temor, além de ficarem com a auto-estima baixa”, afirma a psicóloga, mestre em orientação profissional, Ivanize dos Santos Lima. “O aluno vivencia uma angústia, uma ansiedade muito grande”, conta.
Para a psicóloga, a falta de informação e preparo dos vestibulandos também geram ansiedade. O anseio de passar na prova, aliado ao sentimento de não estar capacitado para isso, acaba causando o estresse pré-vestibular. “As escolas devem oferecer um espaço para os alunos refletirem sobre suas decisões profissionais”, afirma Ivanize. “Além disso, devem trabalhar mais para informar os alunos. A falta de informação é um dos maiores problemas”, completa.
O papel da família e da escola
Não são apenas a concorrência e a falta de informação os responsáveis por criar tensão sobre os vestibulandos. A expectativa da família ou a falta de apoio, assim como a forma de abordagem das escolas, são fatores que contribuem para aumentar o estresse dos alunos. “Tudo depende do ambiente escolar e familiar, das expectativas”, afirma a psicóloga.
Segundo ela, o apoio familiar é fundamental para o bom desempenho dos estudantes. Ela afirma que famílias de alunos de colégios particulares tendem a criar muitas expectativas, pois estão fazendo um investimento, e geralmente cobram por resultados positivos. Entretanto, a estudante Petra Bastoni conta que a pressão vem dela mesma. “Ninguém merece ficar fazendo cursinho. Minha família só me apóia, não faz pressão”, diz.
Por outro lado, “alunos de escolas públicas sofrem algumas vezes com a indiferença da família. Acontece de a família querer que o aluno gere renda financeira imediatamente e a faculdade lhes parece algo a longo prazo”, explica Ivanize. Isso faz com que a família dê pouca importância à busca pelo diploma universitário e cobre mais dos filhos um emprego imediato, deixando-os sem apoio e incentivo, o que pode criar tanto estresse quanto desinteresse pelo vestibular.
As escolas também são responsáveis pelo comportamento do aluno diante do vestibular. Os colégios particulares dão muito preparo e informação aos alunos, entretanto, costumam pressioná-los para bom desempenho no exame. Ivanize explica que “isso acontece porque a escola quer se projetar como uma escola que aprova. O critério atual para se dizer se uma escola é boa se baseia no número de alunos aprovados no vestibular”. Ivanize acredita que na rede pública o processo seja diferente, pois não importa o número de aprovados e os alunos acabam ficando desinformados. As duas questões podem gerar estresse, segundo a psicóloga.
A questão da escolha
Um dos maiores desafios para os vestibulandos é a escolha do curso. A falta de informação, a pouca idade desconhecimento das próprias preferências e necessidades faz com que o jovem se veja muitas vezes perdido em relação a que curso escolher, o que pode levá-lo a decisões erradas. É o caso de Diego Ávila, que irá prestar novamente o vestibular após passar por dois cursos na universidade e desistir: “Primeiro fiz Educação Física por pressão do meu pai. Depois entrei para Engenharia, mas só estava tirando notas ruins e resolvi trancar. Agora vou tentar Economia”, conta Diego. Já Thaynara Carvalho, ainda não fez sua escolha: “ainda não consegui me decidir”, conta.
Professor dá aula para sala completamente cheia no Frei-Seráfico |
Segundo Ivanize, é feito um trabalho de conscientização com os estudantes. Ajudá-los a fazer uma boa escolha, aproximá-los da realidade e encaminhá-los a uma decisão mais “pé no chão”, são alguns dos objetivos da orientação. “Estudamos os fatores que interferem na escolha, buscamos informações sobre as profissões e tentamos fazer o aluno conhecer não só a profissão, mas principalmente a si mesmo”, explica.
A psicóloga diz que o trabalho é realizado apenas em escolas públicas porque “existem dois tipos de vestibulando: o de escola pública e o de escola particular”. Segundo ela, os alunos de escola particular têm acompanhamento e mais informação, enquanto que a escola pública “dá muito pouca importância a esse momento dos estudantes, deixa o aluno praticamente abandonado”. Por isso o trabalho de Ivanize Lima é voltado para a rede pública.
No colégio particular Instituto Auxiliadora, por exemplo, a psicóloga Pollyanna Andrade Oliveira promove visitas a feiras de profissões em várias universidades, orientação para organizar os estudos, além de palestras de ex-alunos e testes vocacionais. No cursinho preparatório Frei Seráfico também existe um trabalho com psicóloga, mas é mais voltado para a clínica. “A psicóloga tem horários fixos em que os alunos podem marcar uma consulta. Se for necessário um tratamento prolongado, eles são encaminhados para o consultório particular e pagam um valor com desconto”, conta o diretor do Frei Seráfico, Luis Antônio Chaves.
O diretor do colégio e cursinho Frei Seráfico, Luis Antônio Chaves e a Coordenadora do Ensino Médio do Instituto Auxiliadora, Magali Aquino contam o que a escola faz com relação aos vestibulandos: