sexta-feira, 6 de maio de 2011

Gastronomia também é patrimônio São-joanense

Por Thayná Faria e Rômer Castanheira

A receita do sucesso gastronômico de São João Del-Rei não é nenhum segredo de nenhum gourmet. O ingrediente principal são os simpáticos personagens que tem o dom de encantar, e claro, dominam a arte da culinária mineira, desde os pratos principais às sobremesas.

Beijo Quente de Dona Geralda
Dona Geralda de Azevedo trabalha na porta do Cine Glória há 25 de seus 56 anos. Ela vende “Beijo quente”, doce que aprendeu a fazer com os sogros. Na verdade foi desafiada a aprender a receita e sair à rua para vender: “Era uma família de ambulantes aquela, e eles não achavam que eu teria coragem de ir pra rua vender doce, mas eu fui”, conta. E esse é até hoje seu trabalho.
Beijo Quente, uma tradição de 25 anos
No início a receita não dava certo, o doce às vezes passava do ponto ou até queimava. Foi difícil chegar ao padrão de qualidade pelo qual é reconhecido hoje. Dona Geralda, com o tempo, foi acrescentando seu toque à receita dos sogros. Canela é um dos ingredientes incorporado com sucesso e, de vez em quando, ela substitui amendoim por côco. A doceira sabe fazer o Beijo Quente de várias formas, uma bem diferente da outra “até com chocolate dá pra fazer, mas não uso porque algumas pessoas têm alergia, sabe?”, diz. 
Quase toda família da doceira trabalha nessa área: o marido Jorge vende milho cozido na Avenida Presidente Tancredo Neves há mais ou menos 25 anos. As filhas Elza e Josimara também vendem doce na mesma região. Dona Geralda conta que começou em eventos na porta do Minas, estádio de futebol local. Logo a concorrência aumentou e ela percebeu o grande movimento no cinema, até então o único da cidade, e decidiu fixar-se ali.
Mãe de cinco filhos, ela diz que o doce é sua única fonte renda. Em dias de muito movimento chega a vender 100 saquinhos de Beijo Quente. Dona Geralda trabalha de segunda a segunda, seis horas por dia, em pé. E isso não cansa? Sorrindo, ela diz que sentiria falta de trabalhar se tivesse que ficar em casa. Já se acostumou com a rotina que lhe permite conhecer pessoas e até fazer alguns amigos. “Tem gente que pára, compra um doce e fica conversando. Até aproveita pra pedir conselho sobre vida conjugal, essas coisas, vê só”, relata sorrindo.

Pastéis de Seu Pedro
De carne ou queijo e, no período de semana santa, de bacalhau. O pastel mais antigo de São João Del-Rei já é patrimônio cultural da cidade. Produzido há 48 anos por Pedro Eduardo Assunção, 73, o Seu Pedro, tem na qualidade e no carinho o segredo do sucesso. A carne do recheio, por exemplo, é moída pelo próprio pasteleiro, que confessa que o ofício se tornou uma paixão: ”só vou deixar de fazer pastéis quando morrer”.
A arte de fazer pastéis, Seu Pedro aprendeu com o pai
Seu Pedro diz que fazer parte da história de São João Del-Rei como um patrimônio vivo da cidade é trabalhar sempre com vontade e persistência. “No inicio do meu trabalho, os pastéis eram feitos manualmente em todas as etapas. Rodava o cilindro no braço e a amassadeira era com rolo, hoje ambos são elétricos, o que facilita muito”, explica.
Ele conta que a única coisa que conseguiu fazer na vida foi pastel e que desde os cinco anos saía com seu pai pelas ruas de Dores de Campos vendendo o salgado em estabelecimentos e casas. O pai é uma lembrança muito forte, foi quem o incentivou a investir na fabricação dos pastéis e ensinou o valor do trabalho.
Pedro faz a massa várias vezes por dia, de acordo com o movimento. Ele conta que a venda do salgado já foi maior. Lembra que, há alguns anos, a cidade só tinha duas pastelarias, “uma delas era a minha”, mas hoje a concorrência aumentou, são mais de dez. Mesmo assim, o pasteleiro conta que muita gente vem de bairros distantes para comer o salgado.  “Sinto que o movimento é 20% menor do que era nos anos 60 e 70”, avalia.

Churros, pipoca e sorvete na Avenida
Rinaldo trabalha na Av. Tancredo Neves há 30 anos
 Rinaldo Fernandes trabalha vendendo guloseimas na Avenida Presidente Tancredo Neves, no centro da cidade, há 30 anos. O negócio começou com o pai, Alain José Fernandes, que veio de São Tiago especialmente para assumir a barraquinha que até então estava alugada para outra pessoa. Vendia apenas pipoca, mas, com o tempo ampliou os negócios, com uma máquina de churros e outra de sorvete.
Quem ensinou Rinaldo a fazer churros foi o antigo responsável pela máquina, para quem o pai a havia emprestado. A produção varia de acordo com a época do ano: “No verão vendemos mais sorvete; o churros, com doce leite, sabor tradicional, é mais popular no inverno e a pipoca a todo tempo”, diz.
Para completar a renda, Rinaldo ainda trabalha com a reforma de pisos, mas explica que nem sempre tem serviço, o que não acontece com as vendas.  O sucesso, garante, vem da persistência e do gosto pelo que faz, “faça chuva, faça sol, estou aqui” comenta o vendedor que trabalha, diariamente, das 8 às 22 horas. “Sai de São Tiago e vim para São João Del-Rei e desde então não saio daqui. Gosto muito da cidade, gosto do povo sanjoanense”, finaliza.



*Foto do Seu Pedro por Nathanael Andrade (2008)


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