terça-feira, 3 de maio de 2011

Arte, sustentabilidade, criatividade e iniciativa

Luis Gustavo Santos e Violeta Cunha

   Foto: Luis Gustavo
_MG_61890-1_-2_-3_tonemappedo-1 cópia
Parte do cenário da peça Retratos Insustentáveis
Vários guarda-chuvas de cabeça para baixo. Roupas penduradas no teto. Uma porta solta no meio do salão. Um manequim nu ao piano. Malas de viagem. O cenário, à primeira vista caótico, foi apenas parte da Mostra Movére Apresenta, que usou a arte para discutir a questão da sustentabilidade. O grupo, que existe há dois anos, trouxe à cena, ainda, cinema, música, performances, artes plásticas, teatro e palestras.

Montada no Solar da Baronesa, a mostra foi um trabalho inédito e nada convencional. O que a princípio parecia uma confusão, vai ganhando sentido conforme os atores vão interagindo com o público. Para o diretor do grupo, professor Adilson Siqueira, “a proposta é inspirada em uma ação eco poética que visa promover uma mudança cultural e social gerada a partir da emoção”.
Por acreditar que as artes - em especial as cênicas - podem contribuir para o desenvolvimento de uma economia sustentável, o grupo resolveu investir nessa parceria entre o teatro e a conservação do meio ambiente. “O Movére está se constituindo numa plataforma inovadora para o desenvolvimento de uma arte cênica que promova a mudança cultural em direção à sustentabilidade, visando à evolução de nossas sociedades e estilo de vida”, afirma o professor do Teatro.

As instalações no Centro Cultural da UFSJ compõem o cenário da peça Retratos Insustentáveis, adaptação do texto “A partida”, de Daniela Kisrt, com relatos colhidos pelo NINJA - Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental da UFSJ. Segundo a estudante de teatro Taíssa Gomöry, que é membro do Movére e atua na peça, os relatos são reais e narram os conflitos enfrentados por pessoas da região que tiveram problemas com o uso irresponsável dos recursos ambientais por empresas, governo e civis. “Alguns perderam casa e família”, explica.

   Foto: Luis Gustavo
_MG_6641 cópia-1
O público se mistura aos atores e cenário
A peça surpreende por sua estrutura incomum, em que o público não fica sentado assistindo e interage diretamente com o cenário e com os atores, além de um texto tocante. Maria Teresa Cardoso, estudante do curso de geografia, que assistiu ao espetáculo diz ser “a primeira vez que assisto a uma apresentação onde estivesse tão perto dos atores, e essa aproximação deu outro ar à peça. No começo tive um estranhamento e não sabia onde ficar, mas depois percebi que fui me misturando ao lugar e aí entendi a proposta”.

A mostra teve ainda filmes, animações e curtas metragens com temática ambiental, como Cartas da Terra, A História das Coisas, Ilha das Flores e Estamira. Além disso, contou com apresentações de artistas locais como o Grupo Xamã, com a performance Number 9, Ogã Elerson do Carmo Soares e Grupo Raízes da Terra, com dança e percurssão. Segundo o Ciro Augusto Canton, professor de história, “São João precisa de outras iniciativas como essa. Sustentabilidade é assunto sério e precisa ser mais discutido. Utilizar a arte para esse debate é maravilhoso!”.
Foto: Luis Gustavo                
_MG_6402-1
A palestrante Profª. Filomena Bomfim
O artista Bruno Padilha apresentou a performance “Asfixia” em que trata da questão lixo e meio ambiente e emocionou o público. As atividades foram encerradas com palestra da professora Filomena Bomfim, do curso de Comunicação Social – Jornalismo sobre “Mashal MacLuhan e a Sustentabilidade: uma abordagem transdisciplinar”. Segundo Filomena, o teórico canadense teve uma formação transdisciplinar que o encaminhou à postura comprometida com a sustentabilidade.
A direção geral do Projeto é do professor Adilson Siqueira, com curadoria do aluno de Arquitetura Bernardo Neves de Paula, auxiliado pelo aluno do mesmo curso, César Peretti. O cenário e as instalações são da artista Débora Castro.

Movére: Artes Cênicas, Performance e Sustentabilidade

O Movére iniciou seus trabalhos em outubro de 2009, através da iniciativa do professor Adilson Siqueira, atual coordenador da equipe. O Movére, um dos subgrupos do Grupo Transdisciplinar de Pesquisa em Artes, Culturas e Sustentabilidade, ligado ao Departamento de Letras, Artes e Cultura da UFSJ, realiza estudos e pesquisas envolvendo técnicas, dramaturgias corporais e dança-teatro baseadas na sustentabilidade, pretende criar uma nova “eco poética” para o trabalho dos atores.

Adilson explica que “o termo ‘sustentabilidade’ expressa a conexão intrínseca entre justiça social, paz, democracia, autodeterminação e qualidade de vida e, para poder atingir estes objetivos, é necessário uma estratégia cultural baseada no pressuposto de que media, artes, educação, comunicação, organização e também as emoções desempenham papel decisivo nesse processo de mudança”.

Tais temas têm sido abordados pelo grupo desde a perspectiva dos conflitos éticos, emocionais, profissionais, psicológicos e legais que envolvem os humanos em suas relações com a presente cultura de insustentabilidade.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...