segunda-feira, 6 de junho de 2011

Equilíbrio no consumo de sódio é fundamental

Ingrid  Andrade e Natália Silva

Ao comer uma única porção de macarrão instantâneo com tempero, a pessoa está ingerindo 167% do sódio recomendado para ser consumido durante todo dia. Algumas marcas de batata industrializada apresentam até 14 vezes mais sódio do que o recomendável. Os números são da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que confirmam dados da Organização Mundial da Saúde (OMS): a população está ingerindo muito mais sódio do que a quantidade recomendada, o que pode acarretar diversos tipos de doenças.  
Os grandes vilões do sódio
Segundo orientação da OMS, o consumo diário de sódio deve estar entre 2,0 e 2,4 gramas da substância. Isso corresponde a 5 gramas de sal de cozinha, o que, em quantidade, representa uma colher de sobremesa. Contudo, a média diária de consumo da população brasileira é de 12g. Para o cardiologista Fausto Régis, a grande quantidade de sódio ingerida pelos brasileiros está intimamente relacionada ao consumo de produtos industrializados.  “Os produtos industriais têm muito sódio e às vezes consumimos sem saber, por falta de informação”, afirma.
A ingestão excessiva do sódio, presente em grande parte dos alimentos, pode acarretar doenças como, insuficiência renal e hipertensão, com risco de evoluir para problemas cardiovasculares, como enfarte e acidentes vasculares encefálicos, conhecidos como derrames. De acordo com o cardiologista, “a hipertensão é, de longe, o fator que mais influencia o surgimento de problemas cardiovasculares. A elevação da pressão em maior grau faz com que adoeçam o coração, os rins, a circulação como um todo”.
Informações divulgadas no site da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) revelam que 30% da população brasileira sofrem com a hipertensão. Fausto Régis comenta que a cidade de São João del-Rei reflete muito bem essa característica, uma vez que cerca de 60% dos pacientes da clínica onde trabalha apresentam quadro de hipertensão. “O número de hipertensos aumenta cada vez mais porque a população está cada vez mais sedentária. Aliado a isso, os péssimos hábitos alimentares propiciam a obesidade, que é um fator determinante para a hipertensão”, afirma o cardiologista. Ele explica que a doença, no estágio inicial, é assintomática. “Isso é preocupante porque o indivíduo sofre do mau, mas não sabe. O pior é que a hipertensão está atrelada a outras doenças. O consumo de sódio em excesso provoca a hipertensão, que abre o leque para doenças mais sérias”, afirma.
Fausto Régis aconselha a redução do consumo de sal, o uso de saleiros nas mesas e diminuição da ingestão de alimentos industrializados ricos em sódio. “Não peço que as pessoas deixem de usar o sal, até porque um pouco de sal é necessário. O sal que utilizamos em casa, por exemplo, é enriquecido com iodo, essa substância é necessária para o bom funcionamento da tireóide. O sal iodado foi uma forma que se encontrou para combater doenças da tireóide”, explica.
Sobre o tratamento das doenças provocadas pelo consumo excessivo de sódio, o cardiologista afirma que existem dois tipos, o não medicamentoso e o medicamentoso. “O tratamento não medicamentoso consiste na mudança de hábito, que é o mais importante. Hoje em dia é importante cultivar um hábito de vida mais saudável, principalmente entre as crianças para iniciá-los a práticas saudáveis. Atividade física, e uma alimentação equilibrada são essenciais. Quanto menos ingestão de produtos industrializados, menor a chance de ingerir quantidades de sódio acima da recomendação”, assegura o cardiologista. O método medicamentoso se restringe ao uso de remédios, posterior a uma avaliação médica.
Fausto alerta que uma má alimentação na infância é fator de risco. Para o médico, a grande ingestão de sódio nessa fase terá conseqüências mais tarde, quando graves problemas, como lesões em órgãos nobres estejam em estágios avançados em decorrência da hipertensão instaurada. “Nos EUA, uma em cada três crianças estão acima do peso ou em estado de obesidade e o Brasil caminha pra isso. Frituras, alimentos calóricos, industrializados, ricos em sódio e açúcar, oferecem graves riscos à saúde”, acrescenta.

Modificações no consumo

O estudo desenvolvido pela Anvisa verificou a quantidade de sódio, gordura saturada, gordura trans e açúcares em mais de 20 categorias de alimentos industrializados. Contudo, o que mais se destacou foi a presença de sódio nos vários tipos de alimentos. Na batata palha, o percentual da substância pode variar em até 14 vezes de marca para marca.  Já nos salgadinhos de milho, essa diferença chega a 12,5. O caso do macarrão instantâneo com tempero também chamou atenção pela grande quantidade de sódio encontrada.
A nutricionista Fernanda Sion Muffato de Souza ressaltou que o consumo da população está muito além do recomendado e indica algumas modificações, por exemplo, o sal de cozinha pode ser substituído pelo gersal, um tempero feito à base de gergelim e uma pequena quantidade de sal marinho. “É necessário reduzir o consumo de sódio, ingerindo-o de uma forma mais natural. Usar temperos naturais como o alho, a cebola, o manjericão e o orégano podem substituir muito bem os temperos artificiais. Além disso, temperos caseiros dão mais sabor à comida”, exemplifica Fernanda.
São muitos os alimentos com alto teor de sódio, por exemplo, refrigerante, principalmente os diets e lights por causa dos adoçantes artificiais, maionese, ketchup, sopas, caldos, temperos, macarrão instantâneo, biscoitos recheados, condimentos, embutidos (lingüiça, salsicha, presunto, mortadela), bife de hambúrguer, batata palha, pizza, salgadinho chips, enlatados, a lista não para de crescer. Além desses, existem outros que têm o sódio em sua composição e, no entanto, não reconhecemos o sabor, como, o leite e a carne. De acordo com a nutricionista, a quantidade de sódio em um tablete de caldo knnor é superior ao valor diário de consumo de um indivíduo adulto.
A determinação do Ministério da Saúde define o teor máximo de sódio que cada cem gramas em alimentos industrializados podem apresentar. Algumas metas devem ser cumpridas pelo setor produtivo até o final de 2012 e aprofundadas até 2014. Para as massas instantâneas, a quantidade fica limitada a 1,9g até o ano que vem, o que representa uma diminuição de até 30% aos valores atuais, já que há variação da concentração do componente entre as diversas marcas. Já os pães de forma podem ter, no máximo, 645 miligramas de sódio até 2012, e 522 miligramas até 2014. Para as bisnaginhas, o limite será de 531 e 430 miligramas, nas mesmas datas. Essas metas correspondem a uma redução de 10% ao ano. Outros produtos, como pratos e temperos prontos, também entrarão na lista, pois contêm conservantes à base de sódio.
 Para Sion, a solução é uma reeducação alimentar e uma fiscalização à industria alimentícia no sentido de diminuir a quantidade de sódio nos alimentos. “O sódio é usado em grande quantidade para conservar o produto. Quanto mais sódio for adicionado, mais o produto vai durar”, afirma. Outra iniciativa seria a criação de campanhas, uma maior informação ajudaria na mudança dos hábitos alimentares. Enquanto isso não é feito a nutricionista recomenda evitar produtos de prateleira e embutidos, e, quando consumir, que seja com moderação.
Assista o vídeo com as recomendações do cardiologista Fausto Régis


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